”Tirar da alma os bocados preciosos – nem mais nem menos”
Este trecho do poema
Apostila, de Fernando Pessoa através do seu heterônimo Álvaro de Campos, além de lindo, traduz nossas inquietações humanas como poucos foram
capazes, talvez tenha conseguido por ser honesto consigo e com
sua própria essência.
Ele disse de forma poética e pura o que
buscamos passar para nossos alunos e para nós mesmos quando o assunto é
tecnologia ou internet, mais especificamente. As mídias têm nos bombardeado de
informações de todo tipo, o tempo todo, sem trégua. No entanto, informação só
se transforma em conhecimento se ela for útil para determinado fim. Do
contrário é apenas lixo, informação descartável que nosso cérebro não dá
importância. E eis ai o pulo do gato
ou a grande sacada, como diriam
alguns de meus alunos. Precisamos identificar, neste mar de informações, o que
é útil para cada um de nós, o que é importante para o momento que estamos
vivendo. E não é tarefa fácil, é muito mais fácil se perder no caminho, pois é
um caminho sedutor e cheio de desvios, de atalhos perigosos. O professor nesse
contexto caótico, muitas vezes fica perdido, sem saber como agir, e
questionamentos do tipo: “Proíbo ou libero o celular?”, começam a aparecer. E então
surgem outras problemáticas de acordo com a decisão tomada.
- Liberei o uso do celular, mas meus
alunos não respeitam o momento de usar, não assistem mais aula, é só no celular
o tempo todo.
- Proibi o uso do celular, mas os pais
vieram até a escola e quase fui linchada.
- Proibi o uso do celular, mas não vi
nenhuma mudança no comportamento dos alunos, eles continuam desatentos e
dispersos.
E aí? O problema está no celular? Nas
mídias? Na família? Na minha metodologia? Na gestão da Escola? Na sociedade?
Aonde foi que eu errei? Fui eu que errei?
Professor que é professor, sempre se
questiona desta forma, independente do que ocasiona o questionamento, o
problema é que as respostas não estão prontas ainda, ainda estamos aprendendo a
conviver com essa avalanche de informações que nos cerca o tempo todo. Hoje,
estamos aqui conceituando algo e, do nada, o aluno surge com um conceito da
wikipedia. Sentimo-nos acuados no primeiro momento e temos dois caminhos a
seguir: ou desistimos ou melhoramos como profissionais. Temos que ter segurança
naquilo que sabemos e no que estamos dispostos a aprender. Somos hoje
mediadores do conhecimento, e precisamos deixar isso claro para o aluno. Querem
celular? Vamos utilizar o celular para algo útil no contexto de sala de aula.
Gostam da wikipedia? Vamos colaborar com a wikipedia. Vamos ensinar nossos
alunos a pesquisar, formular e produzir conceitos sobre as mais variadas
temáticas, sobre as temáticas que realmente interessam aos nossos alunos. É
fácil fazer isso? Não, não é. Mas é possível a partir da certeza de que não
somos finitos em nós mesmos, de que o mundo do conhecimento é muito maior que
tudo aquilo que achamos conhecer. Eu vejo que estamos engessados, que fomos
engessados pelo currículo. Eu entendo que num país tão grande haja a
necessidade de padrão. Mas precisa ser um padrão tão engessado? Não podemos
buscar o letramento através de nossas particularidades? Não podemos estudar a
história do nosso país através da pesquisa documental? Por que seguir livros
didáticos de história ultrapassados? Não estou defendendo a bandeira da
anarquia, mas defendo a bandeira da verdade, da liberdade de estimular o meu
aluno a buscar a verdade, da liberdade de estimular meu aluno para um
crescimento verdadeiramente intelectual, social e político. Acostumamo-nos a
ter tudo pronto, até o planejamento anual vem pronto nos livros didáticos.
Emburrecemos? Ou apenas estamos deixando que nos guiem? Por puro comodismo? Foi
nisso que nos transformamos e a educação está indo de mal a pior, justamente
por causa deste comportamento acomodado e frustrante para nossos alunos. Mas
eis que surge a internet. Redentora e traiçoeira. Redentora, porque traz
consigo a ideologia da liberdade de pensar e agir. Na internet posso tudo, vejo
tudo, descubro tudo, sou livre pra escolher o que quero e quando quero ver.
Tenho, então, uma fonte inesgotável de saberes e informações a meu dispor.
Traiçoeira, porque, sedutora que é, a internet vem com perigos invisíveis.
Antes de me aventurar no mundo da internet, é preciso que saiba como encontrar
fontes seguras de informação, e, a partir daí, transformar esse imenso banco de
dados em conhecimento. Na internet caminhamos sempre por sobre uma fina linha
que divide a informação do conhecimento. É preciso habilidade e prática para
discernir o que é certo e o que é útil. É preciso foco pra não se perder nesse
oceano de informações.
Professora Josykarla Ramos
Nenhum comentário:
Postar um comentário