domingo, 19 de julho de 2015

O professor e as mídias

 ”Tirar da alma os bocados preciosos – nem mais nem menos”

Este trecho do poema Apostila, de Fernando Pessoa através do seu heterônimo Álvaro de Campos, além de lindo, traduz nossas inquietações humanas como poucos foram capazes, talvez tenha conseguido por ser honesto consigo e com sua própria essência.
Ele disse de forma poética e pura o que buscamos passar para nossos alunos e para nós mesmos quando o assunto é tecnologia ou internet, mais especificamente. As mídias têm nos bombardeado de informações de todo tipo, o tempo todo, sem trégua. No entanto, informação só se transforma em conhecimento se ela for útil para determinado fim. Do contrário é apenas lixo, informação descartável que nosso cérebro não dá importância. E eis ai o pulo do gato ou a grande sacada, como diriam alguns de meus alunos. Precisamos identificar, neste mar de informações, o que é útil para cada um de nós, o que é importante para o momento que estamos vivendo. E não é tarefa fácil, é muito mais fácil se perder no caminho, pois é um caminho sedutor e cheio de desvios, de atalhos perigosos. O professor nesse contexto caótico, muitas vezes fica perdido, sem saber como agir, e questionamentos do tipo: “Proíbo ou libero o celular?”, começam a aparecer. E então surgem outras problemáticas de acordo com a decisão tomada.
- Liberei o uso do celular, mas meus alunos não respeitam o momento de usar, não assistem mais aula, é só no celular o tempo todo.
- Proibi o uso do celular, mas os pais vieram até a escola e quase fui linchada.
- Proibi o uso do celular, mas não vi nenhuma mudança no comportamento dos alunos, eles continuam desatentos e dispersos.
E aí? O problema está no celular? Nas mídias? Na família? Na minha metodologia? Na gestão da Escola? Na sociedade? Aonde foi que eu errei? Fui eu que errei?
Professor que é professor, sempre se questiona desta forma, independente do que ocasiona o questionamento, o problema é que as respostas não estão prontas ainda, ainda estamos aprendendo a conviver com essa avalanche de informações que nos cerca o tempo todo. Hoje, estamos aqui conceituando algo e, do nada, o aluno surge com um conceito da wikipedia. Sentimo-nos acuados no primeiro momento e temos dois caminhos a seguir: ou desistimos ou melhoramos como profissionais. Temos que ter segurança naquilo que sabemos e no que estamos dispostos a aprender. Somos hoje mediadores do conhecimento, e precisamos deixar isso claro para o aluno. Querem celular? Vamos utilizar o celular para algo útil no contexto de sala de aula. Gostam da wikipedia? Vamos colaborar com a wikipedia. Vamos ensinar nossos alunos a pesquisar, formular e produzir conceitos sobre as mais variadas temáticas, sobre as temáticas que realmente interessam aos nossos alunos. É fácil fazer isso? Não, não é. Mas é possível a partir da certeza de que não somos finitos em nós mesmos, de que o mundo do conhecimento é muito maior que tudo aquilo que achamos conhecer. Eu vejo que estamos engessados, que fomos engessados pelo currículo. Eu entendo que num país tão grande haja a necessidade de padrão. Mas precisa ser um padrão tão engessado? Não podemos buscar o letramento através de nossas particularidades? Não podemos estudar a história do nosso país através da pesquisa documental? Por que seguir livros didáticos de história ultrapassados? Não estou defendendo a bandeira da anarquia, mas defendo a bandeira da verdade, da liberdade de estimular o meu aluno a buscar a verdade, da liberdade de estimular meu aluno para um crescimento verdadeiramente intelectual, social e político. Acostumamo-nos a ter tudo pronto, até o planejamento anual vem pronto nos livros didáticos. Emburrecemos? Ou apenas estamos deixando que nos guiem? Por puro comodismo? Foi nisso que nos transformamos e a educação está indo de mal a pior, justamente por causa deste comportamento acomodado e frustrante para nossos alunos. Mas eis que surge a internet. Redentora e traiçoeira. Redentora, porque traz consigo a ideologia da liberdade de pensar e agir. Na internet posso tudo, vejo tudo, descubro tudo, sou livre pra escolher o que quero e quando quero ver. Tenho, então, uma fonte inesgotável de saberes e informações a meu dispor. Traiçoeira, porque, sedutora que é, a internet vem com perigos invisíveis. Antes de me aventurar no mundo da internet, é preciso que saiba como encontrar fontes seguras de informação, e, a partir daí, transformar esse imenso banco de dados em conhecimento. Na internet caminhamos sempre por sobre uma fina linha que divide a informação do conhecimento. É preciso habilidade e prática para discernir o que é certo e o que é útil. É preciso foco pra não se perder nesse oceano de informações.

Professora Josykarla Ramos

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